Sinto o gosto do cigarro. É ruim.
Trago o cigarro com intensa força de ter algo aqui dentro mesmo que um pouco de fumaça amarga, tão amarga quanto a ilusão que a vida traz algumas vezes.
Trago o cigarro com o desejo de trazê-la por mais um pouco de tempo, mesmo que ilusório, apenas em minha mente.
Sinto o gosto do cigarro. Já não é mais tão ruim.
Trago o cigarro ao poucos, saboreando cada trago que lembra-me que não a trago comigo.
Trago o cigarro com volúpia, com desejo, na boca apenas o cigarro, não há mais beijos.
Sinto o gosto do cigarro. É bom.
Trago o cigarro... mas não a trago no peito. Não mais.
Trago o cigarro, é mais seguro que trazê-la comigo. É menos nocivo.
Um dia talvez ele me faça algum mal. Talvez um dia ele até me mate.
Ela? Levou um pedaço de mim, e cada partida me matou um pouco.
Não foi o fim do mundo, mas sim, algo dentro de mim morreu e morreu levando um pouco da minha vida, mesmo que uma pequena parte, mesmo que um pedacinho, era um pedacinho de mim, aquele pedacinho que eu guardei com carinho para ela, eu deveria ter guardado para o cigarro, porque ela já se foi há muito tempo, o cigarro ainda está aqui, só ele me sobrou de tudo que passou, de tudo que a vida me trouxe.
A verdade é:
Trago o cigarro para esquecer que ainda a trago no peito. Trago ele na boca, mas não ela. Não mais.
-Bianca Queiroz
Nenhum comentário:
Postar um comentário